sexta-feira, 10 de junho de 2011

Amores e Desamores


por Gustavo Guilherme
Há, sem dúvidas, um equívoco em nosso modo de comemorar o dias dos namorados. Somos vítimas de nós mesmos, de nossa criatividade dramática e das nossas hipérboles intermináveis. Compramos presentes, enchemos a mulher de beijos e, depois, exigimos recompensa. Qualquer recompensa.
Ouso dizer que é tudo culpa de Shakespeare e sua ideia de amor. A culpa é de Romeu. A culpa é de Julieta. Privaram-se das agruras do amor, das dificuldades da vida a dois, das contas no fim do mês, dos ciúmes bobos, da cara amassada ao despertar pela manhã, da estranheza de acordar ao lado de um desconhecido nos primeiros anos de casados, e mais desconhecido ainda anos depois. Mas audácia pior cometeu quem disse, sem juízo, sem pudor, que este deveria ser o ideal do amor.
Ousado é o cônjuge que se desprende de si. Romeu e Julieta se recusaram a viver uma vida onde não teriam o que mais desejavam: um ao outro. Só eu enxergo o egoísmo desta tragédia?
Amor de verdade, bonito de ouvir, era o que cantava Renato e sua Legião. Eduardo e Mônica, tão diferentes um do outro, não deixariam seus sonhos de lado para viver o amor, mas os agregariam à relação. Ela manteria sua individualidade sem ferir a dele. Acredito que lamentaria por décadas se encontrasse Eduardo morto, vítima de algum veneno fajuto, como aquele de Romeu, mas não tiraria a própria vida. Pelo contrário, viveria ainda mais intensamente, amaria sua vida em nome dos dois, ou em nome do amor despedaçado. Ele, por sua vez, se encontrasse Mônica, sua Mônica, exânime aos seus pés, provavelmente a carregaria no colo até o último instante, com as mãos trêmulas não de desespero, mas de esperança.
O casal mais famoso de nossa música, com certeza, não seria daqueles que, contrariados, se encontram em uma livraria e compram um só exemplar de “Casais inteligentes enriquecem juntos” achando ser esta a solução para todas as desavenças. Não. Casal inteligente se doa, se entrega, seja na bonança ou na tempestade, na riqueza ou na pobreza, nos dias de mau humor ou nas horas de júbilo, nos dias em que ela é um doce ou na semana da TPM. Amor de verdade adora TPM! A ocasião perfeita para presenteá-la sem motivo… desde que seja chocolate (de preferência mande entregar, ela provavelmente não quer ver sua cara).
Domingo se aproxima. Dia dos namorados. Admita, é econômico: seu maior presente é ela, e o dela é você. Se não for assim, significa que vocês continuam perpetuando a imbecilidade amorosa de Romeu e Julieta, aqueles pobres coitados.
Se ao menos tivessem tido a chance de trocar e-mails com Eduardo e Mônica…

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